— Vovô, você é lindo!
— Eu não tinha este rosto de hoje meu filho.
— Vovô, seu olhar é tão profundo. Parece estar mergulhado em águas longínquas. (O velhinho quieto, e muito do sabido, fumava seu cachimbo).
— Eu não tinha esses olhares tão vazios assim. Calmo, as vezes triste, tão perdido; as vezes assombrado com o destino que me aguarda.
— Vovô, dê-me sua mão e vamos caminhar.
— Eu não tinha essa mão sem força, trêmula, fria ou as vezes morna. Vamos meu filho caminhar! Pois ainda sou um velhinho que gosta de andar.
— Vovô, deixe-me beijar o seu rosto, me abrace e me beije.
— Eu não tinha esse lábio amargo. Judiado pelo vento gelado. Meu abraço já não é tão mais apertado...
— Vovô, me parece que o senhor está com o coração um pouco petrificado, sinto em tua fala um tom angustiado. Porventura o senhor não é um velhinho amargurado?
— Eu não tinha este coração que nem se mostra.... Ah! Se eu nem sei quem sou, como posso esperar que venha alguém a gostar de mim na velhice que estou?
— Vovô, eu nunca conheci o senhor, mas eu o amo como meu Vovô. E aqui estou escrevendo sobre o senhor, a quem nunca me abraçou, porque nunca vi o senhor.
— Meu filho, esta mudança tão simples, tão certa, tão fácil, em que fico velho eu perdi entre as margens do tempo. Venho de longe e vou para longe, pois aqui estou! Como posso esperar que alguém me escute? Quem dirá até aonde eu vou?
— Vovô José Bezerra do Vale, pois aqui estou eu.... Procurei no céu uma trajetória, mas houve muitas nuvens em minha história, mas ao senhor dedico o meu amor; querido Vovô.
— Estou velho meu filho, mas sei o que é amor, e por isso muito me alegro, meu querido neto. Um beijo de seu Avô.
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